Em busca de um Brasil melhor - Projetos sociais que nos dão esperança sobre o futuro

Laboratório de Jornalismo
16 min readNov 9, 2021

Por Barbara Contini, Júlia Girão, Mariana Savaget, Maria Fernanda Pontirolle e Sophye Fiori, alunas do 1º JO B

H á quase dois anos, vivemos uma crise de saúde mundial com a pandemia da Covid-19. No Brasil, a negligência governamental e a desinformação fizeram com que a doença afetasse a população de maneira muito intensa. Esse contexto foi responsável por escancarar de maneira muito explícita as desigualdades que assolam o nosso país. Em meio a uma crise política e econômica, fica clara também a crise social brasileira.

Para além do desafio da doença em si, envolvendo a precariedade da saúde pública e o descaso do governo em relação ao SUS (Sistema Único de Saúde), as populações mais vulneráveis foram muito mais afetadas do que a parcela privilegiada da sociedade. Seja com o ensino a distância das instituições públicas, com a falta de acesso a itens básicos de higiene, com o aumento enorme dos preços de diversos alimentos essenciais ou com o crescente desemprego, as parcelas não privilegiadas do nosso país foram as que mais sofreram, e ainda sofrem, por conta da pandemia.

Diante desse contexto, nos perguntamos o que poderia ser feito para tentar mudar esse cenário. Será que, em meio a tantos problemas estruturais e tanta miséria, existem pessoas que realmente estão empenhadas em fazer a diferença no nosso país? Felizmente, a resposta que encontramos foi positiva. Ao longo dos últimos meses, fomos atrás de projetos sociais e pessoas que buscam ajudar as pessoas que mais sofrem no Brasil, em diferentes aspectos e áreas da vida em sociedade. Seja na educação, no incentivo ao esporte, no combate à pobreza menstrual ou no amparo a mulheres em situação de vulnerabilidade, esses projetos conseguem transmitir a esperança de que um futuro melhor e mais justo é possível.

1 - Associação Materna: acolhendo muito além dos bebês

E m meio a grandes e luxuosos prédios de classe média alta e alguns casarões antigos conservados, no Alto do Ipiranga, em São Paulo, acontece um projeto social muito sensível, bonito, com pouca visibilidade. A Associação Materna luta pelo acolhimento de grávidas em situação de vulnerabilidade, a fim de darem uma vida melhor a seus pequenos. “O foco é o bebê, nós cuidamos das gestantes, mas pensamos nessa criança, porque queremos dar a oportunidade de ser protagonista de sua própria história”, explica a idealizadora do projeto. Wanda Grecco é uma mulher extremamente doce e gentil, movida pelo amor e pela vontade de ajudar os outros, além de ser a alma e cabeça por trás da Materna. “Eu brinco que fui picada pelo vírus do amor, é um amor incondicional por gestantes”, conta.

Ela começou a ajudar grávidas há mais de vinte anos, realizando pequenos chás-de-bebê para poucas mulheres na igreja de que fazia parte. Mas sentiu que aquilo era pouco e passou a captar gestantes nas ruas para ajudar: “Percebi que havia muitas mamães despreparadas, abandonadas, e tinham a tendência de também abandonar seus bebês. Comecei a conhecer as dores delas e vi que muitas não tinham nem o amor fraternal”.

A equipe da Associação Materna (Acervo da instituição)

O projeto lida e conta uma das histórias mais tradicionais do Brasil: mães que, em sua maioria, foram abandonadas pelos pais biológicos de seus bebês, pelo Estado e pela sociedade, que naquele espaço encontram o apoio e a família que precisam para viverem, serem presentes e reivindicarem o direito a uma vida digna para si mesmas e seus filhos. Desse modo, as mais de cinquenta grávidas e as inúmeras mães que já têm seus bebês nos braços possuem um perfil muito semelhante. São mulheres de baixa renda, desempregadas, sem apoio familiar, com histórico de violência doméstica, vítimas da crise no país e periféricas, que optam todas as semanas por fazer uma longa viagem com seus filhos de suas comunidades até o local onde todo o acolhimento acontece. “A maior tristeza é querer dar algo para seu filho e você não ter, acho que desestrutura qualquer pessoa. Eu achava que eu não ia ter nada, que meu filho ia passar necessidade, e de repente você acha um lugar igual ao Materna. É Deus mesmo”, diz uma das ajudadas pelo projeto.

Mas Wanda não faz nada disso sozinha. Os 36 voluntários se preocupam, amam e lutam pela causa tanto quanto ela, dedicando boa parte do seu tempo livre ao projeto. Desde outubro de 2019, toda a ação principal ocorre em cinco fases, divididas em 14 semanas, por meio de um curso que proporciona uma base sólida de conhecimento sobre a gestação e cuidados com o bebê. A primeira fase é a de acolhimento, em que Wanda faz o atendimento às gestantes, escutando seus medos e angústias. Depois, elas são encaminhadas para a terapia em grupo, porém a psicóloga fica o programa inteiro disponível para atendimentos individuais. Logo após isso, ocorrem palestras que abordam diferentes temas sobre a gestação e o bebê. A seguir, são feitas oficinas de artesanato, onde é realizado um porta-retrato que será usado no final do curso e, junto a isso, é feita a capacitação profissional dessas mulheres. Também ocorre um bazar social, que dá a posse da moeda social da Materna às mães, o “Mater Card”, para que elas possam “comprar” os produtos que gostarem para si mesmas e para seus bebês. Dessa forma, se torna possível que a mãe tenha sua autoestima elevada, além de obter o que necessita. No 13° encontro, acontece o dia da beleza, que junto ao Projeto Tesourinha, de forma muito especial e carinhosa, é feito cabelo, maquiagem e uma sessão de fotos para registrar os últimos momentos das gestações. Já no 14° e último encontro, é feito uma festa de formatura, onde as mães recebem um certificado do curso e um enxoval completo para elas e os recém nascidos. Além de comemorarem as chegadas de novas vidas junto aos seus familiares, com comes e bebes à vontade.

Uma parte do bazar (Acervo da instituição)

Laudirene de Oliveira e Dejane Cristina Martins Lopes são da mesma comunidade, mas se tornaram grandes amigas dentro do projeto e afirmam que a Materna foi uma verdadeira virada em suas vidas. Laudirene conta que perguntou para uma grávida em uma fila para pegar cesta básica se conhecia um lugar que distribuía enxoval, e assim ela conheceu a Materna, tendo sua vida mudada para sempre. Já Dejane conta que graças ao projeto ama seu filho: “Antes eu não queria meu filho. Naquele tempo, sem a estrutura que eu tenho hoje, eu infelizmente queria tirar ele. Hoje eu amo meu bebê e faço de tudo por ele, mas foi depois de passar com a Materna”.

Laudirene, Wanda e Dejane (Foto Bárbara Contini)

Ao falar do projeto e, principalmente, de Wanda, ambas se emocionam e precisam de um momento. O que demonstra o impacto da idealizadora e da Materna. “Eu agradeço muito a Materna, por ter o acolhimento e o carinho delas que fez eu ter carinho com o meu bebê. Principalmente a Dona Wanda. Quando falo dela eu choro, um choro de amor, de querer, de se sentir acolhida”, diz Dejane. Mas as mulheres ajudadas pela Materna não são as únicas que se emocionam ao falar das experiências vividas ali. Absolutamente todos que trabalham e lidam com a Associação enchem os olhos de lágrimas extremamente emocionadas quando contam qualquer história de que fizeram parte.

“São todas minhas filhas. Milhares de filhas e netinhos espalhados por esse mundo” — Wanda Grecco

Para saber mais, acesse https://www.materna.ong.br/.

2 - Instituto CADES: levando tênis para a periferia

E m uma região vulnerável da Grande São Paulo, crianças entram empolgadas na escola pois sabem que irão ter aula de educação física naquele dia. Para muitos isso é uma situação corriqueira, a famosa aula de algum esporte duas vezes por semana que está presente em todas as escolas particulares, além dos dias de atividades extracurriculares como ballet, judô, natação…

Mas infelizmente isso não é o cotidiano de todos os brasileiros. Na realidade, o país do futebol não dá tanto suporte quanto deveria e as crianças que dependem do serviço público para incentivá-las na prática de atividade física acabam não tendo acesso a nenhum espaço público adequado ou orientação de professores.

Foi com o intuito de criar essa cultura do esporte desde a base que o Instituto CADES (Cidadania Através dos Esportes) nasceu em 2007. Ana Cristina Amaro, co-fundadora e filha do fundador Ricardo Amaro, conta que o projeto foi pensado nos mínimos detalhes com o objetivo de levar o esporte educacional, que não busca performance ou rendimento, para as instituições de base, escolas públicas e regiões mais vulneráveis.

Crianças brincam com raquetes adaptadas pelo CADES (Acervo da instituição)

Hoje, crianças de 6 a 14 anos entram alegres e animadas nos ônibus em direção aos projetos ou saem correndo da sala de aula para encontrar os professores de educação física do CADES. Mas nem sempre foi assim:

“Muitos não gostam no começo, temos casos que os meninos bateram e chutaram a porta quando souberam que ia ser tênis. Tudo que é novo é estranho, eles queriam o futebol sem precisar pensar diferente.” Ana Cristina Amaro, co-fundadora do projeto CADES.

É sobre pensar diferente e ampliar olhares, fazer as crianças saírem da zona de conforto e terem consciência corporal a partir de esportes que elas não estão muito acostumadas, como o tênis, carro-chefe da instituição, atletismo e esportes com raquete. Ana Cristina ainda reforça que é importante mostrar que esse tipo de esporte não é apenas para a “elite”, e que não é porque você vem de uma região mais carente que só pode jogar futebol.

Com materiais adaptados, o CADES muda a vida de milhares de jovens e faz acontecer, ajudando tanto na formação física como na intelectual. É incrível poder ver como as crianças saem cada aula mais felizes, com noções de organização, determinação e dando importância ao trabalho em equipe. Ana Cristina ainda destaca:

“Se a criança tem a oportunidade de praticar uma atividade física na infância, a chance dela levar isso para vida adulta é maior. Foi nessa pandemia que a gente viu a importância da saúde mental”

Projeto Tênis para meninas- Reprodução Instagram

Como se não bastasse a falta de incentivo e a luta diária para fazer o projeto acontecer, ainda temos o fator pandemia, que obrigou o senhor Ricardo Amaro, fundador, a fazer uma pausa. A equipe até se juntou e batalhou para fazer aulas e disponibilizar material online, porém a adesão foi pequena, já que estamos falando de regiões vulneráveis nas quais muitas vezes as famílias não têm acesso à internet.

Após um ano e meio em casa, as perdas tornaram-se perceptíveis e os educadores tiveram que voltar uma casa com as crianças. Coisas básicas como correr, saltar e pular foram tarefas quase impossíveis de serem realizadas pelos pequenos logo nas primeiras aulas. Sem falar do cansaço e falta de ânimo que era perceptível em suas faces.

Mas não é uma pandemia que irá parar essa ONG que possui tanta história positiva para contar desde sua fundação. Antes mesmo de estar em escolas públicas como ONG, a família Amaro tinha um programa de esportes em regiões extremamente carentes e vulneráveis. Foi aí que Ludmila da Silva, jogadora profissional de futebol, encontrou sua verdadeira vocação. A menina sempre se dedicou muito a comparecer às aulas e aos poucos foi se apaixonando cada vez mais pelo esporte. O resultado disso tudo foi que o passatempo acabou virando profissão.

Também iniciaram um projeto de menor aprendiz em Paraisópolis, com jovens a partir de 16 anos que se interessaram pelos esportes com raquete e começaram a praticar no contraturno porque trabalhavam. Alguns desses hoje seguiram carreira, participando de torneios internos e se profissionalizando para também poder dar aula.

O CADES ainda não tem uma sede fixa, já que todo o dinheiro arrecadado a partir do projeto, incentivado via leis estadual e federal do esporte, acaba indo para o material das aulas. A renda por patrocínio ainda é pequena, mas a co-fundadora acredita que isso seja um projeto em passos de formiguinha, que precisa ser construído pouco a pouco:

“O bom é que a gente percebe que as empresas estão começando a olhar para o esporte como fundamental e apoiando o setor. Existe algo bom vindo por aí, a visão de que o esporte não é só largar uma bola em uma quadra e que a cultura esportiva é essencial dentro da escola”.

Atualmente a equipe está com três projetos em andamento. Os projetos dentro das escolas públicas, como o de Paraisópolis, têm duração de doze meses e atendem crianças de 6 a 14 anos da própria escola e as de fora que se interessarem.

Projeto CADES antes da Pandemia (Acervo da instyituição)

Os outros projetos são vivências mais pessoais que acontecem no interior de São Paulo e duram seis meses, atendendo algumas escolas e fazendo a capacitação técnica dos professores para que eles possam continuar realizando as atividades. Vale lembrar que todo o material adaptado é deixado nas instituições para que as crianças continuem praticando e se desenvolvendo.

É com lindas histórias de sucesso, trabalho em equipe e o sonho de levar uma vida melhor para as crianças que o CADES continua atuando e acreditando no sonho idealizado desde 2007. A alegria que estampa a feição das crianças já é a maior recompensa e sinal de que o esforço diário vale a pena.

“ A nossa luta agora é para que sejam criadas políticas públicas voltadas para essa valorização do esporte. É incrível como em ano de Olimpíadas todo mundo fala do esporte e como ele deve ser enaltecido, mas infelizmente se passam dois meses e todo mundo esquece sua importância.” — Ana Cristina Amaro.

Não deixe também de visitar o Instagram e o Portal do CADES, onde é possível conferir todos os outros trabalhos realizados pela instituição, além de conhecer um pouco mais sobre o projeto em si.

3 - Matemática em Movimento: educação para o desenvolvimento

N o que se trata de atenção à criança e ao adolescente, as ONGs não ficam de fora, principalmente acerca da educação. As aulas pouco dinâmicas presentes no sistema de ensino nas escolas brasileiras e a desmotivação dos alunos e professores com formação deficiente resultam em desastrosos índices no que se trata da habilitação matemática no Brasil.

Segundo o relatório De Olho nas Metas de 2011, 89% dos estudantes chegam ao final do ensino médio sem saber o mínimo esperado da disciplina, o que sujeita o país à 57ª posição no ranking mundial de aprendizagem matemática, numa lista de 65 países agrupados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA).

Diante dos dados estrondosamente negativos presentes na estrutura educacional brasileira, mais espessos ainda nas escolas públicas, foi fundada a ONG Matemática em Movimento — carinhosamente apelidada de MM. Criado em 2012 mas formalizada apenas em 2016, o MM conta com 157 voluntários e 206 alunos, tendo como principal objetivo auxiliar e alavancar os estudos matemáticos para estudantes de ensino público, desde o nono ano do fundamental ao terceiro ano do ensino médio, orientando esses jovens a investir na educação como forma de crescimento pessoal e profissional.

Atividade no Matemática em Movimento (Acervo da instituição)

Renata Inacio, 29 anos, voluntária do MM desde 2014 e presidente da ONG, relata:

Atividade no Matemática em Movimento (Acervo da instituição)

Renata Inacio, 29 anos, voluntária do MM desde 2014 e presidente da ONG, relata:

“A Matemática em Movimento nasceu dentro da Escola de Engenharia da USP e veio muito de um reconhecimento de privilégios. Veio das pessoas reconhecerem o quão privilegiadas elas foram de ter uma educação, de ter estudado em uma escola particular, ter conseguido entrar em uma boa universidade e, chegando na faculdade, ver que aquele espaço é mesmo ocupado majoritariamente por pessoas das escolas particulares. Acho que foi isso o que deu essa vontade, o inconformismo — que inclusive é um dos nossos valores — para pensar que as universidades, principalmente as públicas, deveriam ser acessadas por pessoas que também vêm de escolas públicas”.

O principal pilar que fez com que o projeto surgisse foi realmente acreditar muito no potencial da educação de transformar para melhor a vida de uma pessoa, de dar oportunidades e também reconhecer que a educação pública no Brasil é muito mais defasada do que a educação particular.

Tratando-se de atividades, as aulas do MM são bem completas, dinâmicas e lúdicas. Ocorrem aos sábados, das 9h — 12h30. Quanto às matérias, como o próprio nome sugere, o foco principal é o ensino e esclarecimento da matemática, provando que esta não é um “bicho de sete cabeças”, como muitos pensam. Entretanto, o espaço ocupado pela última aula do período é das Atividades de Cultura e Desenvolvimento. Nelas, são abordados temas relacionados a assuntos diversos e que preparam de fato o aluno para a vida fora do ambiente escolar, como educação financeira ou mesmo pautas sociais, como o machismo, homofobia e racismo, não focando apenas em conteúdos disciplinares.

As aulas acontecem em parceria com duas escolas públicas da cidade de São Paulo, uma na Zona Sul e outra na Zona Oeste (Etec Carolina Carinhato Sampaio e Escola Estadual Keizo Ishihara, respectivamente), mas com a pandemia da Covid-19, durante os anos de 2020 e 2021, as atividades presenciais da ONG estão suspensas nestas escolas.

Atividade antes da pandemia

Agora na época da pandemia, não estamos fazendo nenhuma atividade presencial, então não estamos utilizando nenhum lugar físico. (…) As nossas aulas não são apenas para os alunos dessas escolas parceiras, na verdade qualquer aluno de escola pública pode se candidatar e participar, ele só precisa se deslocar até a escola que é o polo que usamos. Agora a gente teve que adaptar todas as nossas atividades para o formato remoto, desde o ano passado — Informa Renata em relação ao espaço fixo da ONG e aos planos pós-pandemia..

Ao longo do período pandêmico, foi possível perceber a possibilidade de fazer um aprendizado de qualidade EAD. Dessa forma, a ONG abriu uma turma online que deve continuar nesse formato mesmo depois das demais turmas voltarem para o presencial.

A nossa ideia é alcançar outras pessoas, de outras cidades do Brasil. — Afirma Renata.

Quando pensamos nas experiências gratificantes e retornos de ser voluntário numa ONG voltada à educação como a Matemática em Movimento, alguns episódios podem vir à tona, como a história de Marcos Caetano, de 20 anos, atualmente aluno de Ciências Fundamentais para a Saúde na USP.

Aula do departamento pedagógico

Marcos conheceu a ONG em 2018 quando ainda estava no ensino médio e decidiu se tornar um aluno MM. Ao se formar, retornou à Matemática em Movimento em 2020, dessa vez como voluntário nas atividades de Cultura e Desenvolvimento. Agora, atua na coordenação do primeiro ano do ensino médio. “Eu acredito muito no projeto, justamente pela minha própria experiência de vida” diz Marcos.

É importantíssimo voluntariar e apoiar ONGs com um propósito lindo de melhorar e transformar vidas de crianças e adolescentes como essa.

Saiba mais em https://matmov.org.br/ e acompanhe a ONG pelo Instagram, pelo perfil @matematicaemmovimento.

4 - Mudando fluxos: pela saúde menstrual

N os últimos meses, a pauta “pobreza menstrual” vem sendo tocada, à medida que o presidente Jair Bolsonaro vetou o projeto de lei que visava a distribuição de absorventes em escolas públicas. Mas o que se entende por pobreza menstrual?

O conceito trata-se da condição enfrentada por pessoas que menstruam adolescentes e adultas que vivem em situação de vulnerabilidade social e econômica e, consequentemente, sofrem pela falta de saneamento básico e itens de higiene pessoal, como o absorvente.

O projeto intitulado Mudando Fluxos, idealizado e fundado em maio de 2021 por Maria Eduarda Fiori, 19, e Milena Maeda, 19, atua no combate à pobreza menstrual nas periferias dos estados do Espírito Santo e Mato Grosso. O movimento ainda é novo, não obtém de um espaço físico e conta com a colaboração de 5 voluntárias. “Nosso objetivo é expandir e crescer enquanto houver necessidade, mas a expectativa é que não sejam necessárias instituições como esta em um futuro próximo.” diz Maria.

Slogan do Mundando Fluxos

As garotas tomaram a iniciativa durante o período de pandemia, onde observaram o crescente índice de pessoas que menstruam em condições tão deploráveis. Sendo assim, começaram a procurar meios nas redes sociais de criar um espaço de informação e ação, publicando sobre avanços, regressos e fatos acerca do emblema e buscar propostas para combatê-lo. No Instagram e no Twitter, já contam com 1344 seguidores! Felizmente, em outubro, através de campanhas na Internet, bateram a meta de arrecadação de R$3.000,00 para a compra de absorventes descartáveis. Já em termos físicos, o projeto se estrutura estrategicamente, isto é, com pontos de coleta em farmácias e mercados. Todas as arrecadações são destinadas a ONG’s de mais longa data que atuam diretamente em comunidades específicas, distribuindo os absorventes.

Doações recebidas pelo projeto

Segundo Maria Fiori, as maiores dificuldades com as quais se depararam, foi a falta de visibilidade do tema por parte da classe média e a visão social do significado de menstruação. “É sabido que há pessoas em situações de pobreza, passando fome e sem saneamento básico, mas, realmente, chega a poucas pessoas a informação de que há pessoas que menstruam acostumadas a usarem miolo de pão ou papel de jornal como forma de substituir o absorvente.” A idealizadora revela que, por mais que esta não seja sua particular realidade, já foi a de sua mãe e é a de muitas colegas — as quais incluem-se no grupo de 29% das mulheres brasileiras que enfrentam a inacessibilidade a produtos de higiene pessoal. Outra grande barreira, é a altíssima taxa de 20% sobre o absorvente descartável. “No Brasil, menstruar é tido como um ato supérfluo. A saúde menstrual da mulher é luxo”. Os projetos de lei que visam prestar algum tipo de suporte à mulher, não são prioridade, tampouco levados com seriedade.

Ponto estratégico de arrecadação

O projeto afirma que a pobreza menstrual só deixará de ser uma realidade, quando o governo tratar absorventes como elemento essencial de higiene pessoal. Com a esperança que um dia isso aconteça, as fundadoras e colaboradoras do Mudando Fluxos, procuram agir na raiz do problema, entrando em contato com vereadores e formulando abaixo assinados.

O caminho ainda é longo e os desafios inúmeros. Mesmo assim, existem projetos e pessoas que acreditam na possibilidade de um futuro menos injusto e desigual, que escolhem enxergar um país melhor no fim da estrada tortuosa. Apesar de todas as barreiras que surgiram com a pandemia, a necessidade de adaptar ações para um modelo seguro e que respeitasse o isolamento social, tão necessário, os projetos continuaram ajudando aqueles que, mais do que nunca, necessitavam, ou foram criados diante do cenário de crise social que se agravou com a doença.

Seja como for, essas mobilizações sociais que buscam ajudar as pessoas — desde pessoas que sofrem com a pobreza menstrual, mães em situação de vulnerabilidade, jovens vítimas de um sistema de educação desigual, até crianças que não possuem acesso ao esporte e ao lazer — nos dão esperança de um Brasil melhor.

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Laboratório de Jornalismo

Espaço reservado para produções dos alunos do 1º ano de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero em 2021