A pandemia do novo coronavírus e o aspecto socioeconômico dos times de menor expressão

Laboratório de Jornalismo
14 min readJun 28, 2021

Por Gustavo Aurélio Ribeiro Ariceto, Gustavo Orito de Carvalho, João Victor Azevedo, Matheus Carvalho Pereira e Vitor Lima Bastos, alunos do 1º JOA

Até que ponto a pandemia do novo coronavírus pressionou os clubes de futebol de menor expressão? Como a paralisação dos campeonatos afetou atletas e funcionários? E quais foram os impactos do vazio nas arquibancadas?

N o dia 26 de fevereiro de 2020 foi anunciado pelo então ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, o primeiro caso de Covid-19 no Brasil. A pandemia chegou ao país e os casos começaram a se multiplicar desde então, levando governantes a adotarem medidas de restrição como forma de impedir a proliferação do vírus. Campeonatos esportivos tiveram que ser paralisados e inúmeros clubes acabaram sendo atingidos pela crise econômica. Estádios vazios, perda de bilheteria e a diminuição do número de patrocinadores e de contribuintes do programa de sócio-torcedor foram alguns dos problemas enfrentados pelos clubes de futebol. Não apenas os jogadores foram impactados pela crise decorrente da pandemia. Marcus Vinícius, do Club Sportivo Sergipe, afirma: Houve funcionários que literalmente passaram fome, ficaram dependentes de doações”. Os clubes de menor expressão precisaram se reinventar para sobreviverem em meio a esse período pandêmico, cujo fim por enquanto é difícil de prever. A saudade do momento em que os jogos aconteciam com o estádio cheio é sentida agora em que as partidas, quando podem ocorrer, são realizadas sem a presença dos torcedores. Ademais, a falta de apoio por parte da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é apontada como uma das maiores dificuldades que os times das divisões inferiores sempre enfrentaram.

Aqui, através de relatos, personagens que fazem parte do dia a dia desses clubes expõem a realidade do momento que passam. Longe dos holofotes das grandes equipes, a dificuldade foi o aspecto mais destacado pelos entrevistados. Um jogador, um CEO, um vice-presidente de marketing, um torcedor, uma repórter de campo e um dono de página na internet sobre times pequenos deram fortes depoimentos sobre o momento atual.

Realidade financeira

“Não existe seriedade, honestidade ou ética no mundo do futebol, mas é esse jogo que temos que jogar”, afirma Luís.

Vindo da iniciativa privada e engenheiro de formação, o paulistano Luís Carlos Guedes, atual CEO do Joinville Esporte Clube, estava acostumado com a estabilidade econômica na empresa onde trabalhou por 35 anos. Ao ingressar no JEC, se espantou ao ver a falta de profissionalismo no meio do futebol.

Entrevista concedida por Luís Carlos Guedes.

O diretor executivo garante que os clubes devem agir de maneira muito simples durante esse período, mantendo a receita sempre maior que as despesas. “Hoje os pilares financeiros são os mesmos: sócios, patrocinadores e direitos de imagem. Perdemos muito, tanto em transferência de atletas quanto em afiliados”, explica o responsável pela gestão da equipe catarinense.

O trabalho de Luís não é fácil. Quando chegou ao Joinville Esporte Clube, no final do primeiro semestre de 2019, ano em que o clube estacionava na Série D, equivalente à quarta divisão do Campeonato Brasileiro, após consecutivos rebaixamentos e dois anos na Série C (terceira divisão), a equipe estava abalada, com grande dívida financeira e o descontentamento da torcida, que acompanhou sua decadência. Hoje, após dois anos de sua chegada, o Tricolor ainda está em reconstrução, porém já extrai bons resultados financeiros decorrentes de uma boa administração. O gestor afirma: “A dívida é alta para o padrão do clube. Segundo o balanço, devemos hoje 47 milhões de reais. Parte dessa dívida é tributária e estamos negociando, fizemos um alongamento da dívida para que se chegue a um valor a ser pago mensalmente para sanar. Temos atos trabalhistas com setenta ex-atletas do clube, logo, o lucro é dividido em cotas para pagar essas despesas, de aproximadamente 20%. Estamos equacionando essa dívida”.

“Eu conheço o ex-presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. Ele é do BNDES, acionista da Tupy, onde eu trabalhava, e veio para Joinville quando eu assumi, passei uns dias com ele e a gente conversou sobre o trabalho dele no clube carioca. Ele saiu daqui e deu entrevista falando que o Joinville está fazendo o que eles fizeram lá e que iríamos sair mais rápido dessa dívida que o Flamengo. Ele não contava que iam arrecadar tanto com a venda de jogadores.”

Segundo o CEO do clube catarinense, para manter o plantel e a folha salarial no período pandêmico, cortar gastos não é o suficiente. Existe a necessidade de reinventar a maneira de arrecadação. No caso do JEC, esse processo foi feito de forma satisfatória. “Aumentamos a receita, não diminuímos a folha salarial, inclusive aumentamos o teto (de dez mil para quinze mil reais), tivemos uma arrecadação extra da Copa do Brasil e já temos uma projeção para pagar os próximos salários em dia. Isso tudo é gestão financeira”, disse Luís Carlos.

Um dos principais aspectos econômicos ressaltados por ele foi a transferência de atletas, tópico muito importante para a arrecadação dos clubes, que com a pandemia foi prejudicada. Com a perda financeira, o fluxo de contratações caiu de forma significativa entre os clubes de divisões inferiores e, nessa perspectiva, novos negócios estagnaram e os que estavam em andamento foram lesados pela crise. No caso do Joinville, a negociação do volante Anselmo junto ao Internacional, de Porto Alegre, em 2016, é exemplo da atual realidade financeira do futebol brasileiro. Com parcelas pendentes, o negócio chegou ao jurídico da CBF. Luís Carlos comenta: “No caso do Internacional, eles estavam pagando uma taxa de setenta mil reais mensais. Na pandemia eles pararam de pagar e fez muita falta, contávamos com esse dinheiro no fluxo de caixa. Negociamos em novembro de 2020 e existia uma multa no contrato caso eles não quitassem até aquele mês. Entramos com uma ação na CBF e estamos em jogo jurídico. Eles tentam jogar a dívida para frente. Vão ter que pagar, senão terão problemas para contratar jogadores”.

Com a paralisação das atividades em 2020, o dinheiro envolvido no futebol foi reduzido e a preocupação em manter a normalidade no ambiente dos clubes foi decretada. Por estar na Série D daquele ano, o JEC recebeu, segundo Luís Carlos Guedes, dois aportes de sessenta mil reais e as cotas atrasadas da Federação Catarinense de Futebol, o que contribuiu com a continuidade do trabalho. “Ajudou muito a pagar salários. O que ouvimos dos atletas foi que nós fomos um dos únicos clubes a repassar esse dinheiro a eles. Outros estão pegando esse dinheiro para pagar outras dívidas. Isso gerou um vínculo de confiança entre atleta e diretoria.”

Custos da pandemia

Os custos gerados para a manutenção da saúde dos jogadores e comissão técnica durante os trajetos e jogos também entram no fluxo de caixa dos clubes. Isso, somado às despesas geradas quando um membro da equipe é contaminado, impulsiona os gastos nos cofres dos times. Nesse período, gastos com saúde são de suma importância para a continuidade dos campeonatos. Outra paralisação dos torneios pode ser desastrosa para as equipes de menor expressão. O diretor do JEC destaca:

“Quando se trata de Campeonato Brasileiro, a CBF paga. Nos campeonatos estaduais nós temos uma cota com o patrocinador, não economizamos com testes, se ultrapassar essa margem, pagamos o excesso. A maioria dos clubes está economizando, não tem dinheiro para pagar a testagem de indivíduos. E existe também a situação que envolve o atleta que mora no centro de treinamento e é contaminado. Ele tem que ser isolado dentro do CT, ter a alimentação separada, remédios, e tudo isso é custo para o clube, que não tínhamos antes da pandemia, além do retorno dos jogadores às atividades do futebol”.

A perda de bilheteria

A torcida, um dos pilares da equipe de Joinville, foi outro aspecto destacado por Luís. A ausência dos torcedores nas arquibancadas afeta não somente a motivação dos jogadores, mas também a conta bancária do time.

Luís Carlos Guedes, em entrevista com nosso grupo.

Patrocínios

Como Luís Carlos disse, os patrocínios fazem parte dos pilares financeiros de um clube de futebol. Porém, durante o momento pandêmico, muitas empresas passaram por dificuldades financeiras, dessa forma dificultando a prospecção de novos patrocinadores para o clube. “Muitas empresas achavam que iam quebrar, entrar em colapso, a incerteza era enorme.”

A saída que muitos clubes encontram é fechar contratos curtos com patrocinadores pontuais, muitas vezes com valores reduzidos, feitos para a realização de apenas um jogo. O ABC Futebol Clube, de Natal (RN), usou dessa tática contra o Botafogo, do Rio de Janeiro, em partida válida pela Copa do Brasil. As empresas Every Cybersecurity and GRC, Óticas Diniz e Escudetto estamparam a camisa da equipe potiguar para a partida eliminatória. O vice-presidente de marketing do clube, José Roberto Medeiros, falou sobre a importância desses patrocinadores: “Mesmo não sendo um grande valor, não foi ruim, porque, para um clube que está disputando a Série D e passando por dificuldades financeiras, todo recurso que entra é importante”.

Camisa do ABC utilizada na partida contra o Botafogo. Fonte: Reprodução.

Os patrocínios nas camisas dividem os sentimentos da torcida. É evidente que a presença de marcas no uniforme simboliza um valor a mais na receita do clube, porém a quantidade exacerbada de estampas incomoda alguns torcedores, que alegam ser esteticamente feio ter um uniforme “poluído”. Roberto Medeiros também se posiciona sobre esse assunto:

Podcast feito com Roberto Medeiros.

Roberto diz, ainda, que os clubes devem oferecer mais do que apenas estampar logos de empresas nos uniformes. O patrocínio deve consistir em um negócio no qual ambas as partes saem beneficiadas. Para exemplificar, citou a parceria que o ABC fechou com a Unimed Natal. O projeto vai além de simples investimentos no clube, também proporciona assistência médica para os atletas e promove grande interação com a torcida. O mais interessante é que o engajamento com torcedores é feito de maneira conjunta com o grande rival da equipe, como relata o vice-presidente de marketing:

“Apesar de eu ser do ABC, levamos o nosso principal rival (América-RN) junto. Porque para poder vender eu ofereci um negócio para o grupo do plano de saúde. Criamos um ‘torcedômetro’ para ver quem fecha mais planos, se são os torcedores do ABC ou do América, acertamos isso e afinamos um projeto que fez compensar as perdas passadas”.

A visão da arquibancada

João Otávio em entrevista à TV Banqueta, 2019.

Desde 2019 chateado com o desempenho de seu time do coração, o Villa Nova Atlético Clube, João Otávio assistiu a pandemia chegar e obscurecer ainda mais o caminho da equipe. Torcedor de arquibancada, o mineiro lamenta a ausência da torcida no Estádio Castor Cifuentes, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, em decorrência das medidas restritivas contra a Covid-19 que vigoram no estado desde março de 2020. O torcedor afirma: “A torcida enfraqueceu demais, é muito menos envolvimento. Ao mesmo tempo em que o estádio está fechado, os bares também estão e não podem transmitir os jogos. O torcedor que ia encontrar os amigos para ver o jogo não sai de casa mais, esquece da partida. Para de comprar produto do clube e de contribuir com o programa de sócio-torcedor”.

O Villa, tradicional equipe mineira, vive o período mais conturbado de sua história. O amadorismo de algumas administrações, maus gestores, o fim do programa de sócio-torcedor e a pandemia do novo coronavírus estão entre os principais motivos causadores dessa crise. Segundo João Otávio, o clube perdeu a contribuição da prefeitura e não conseguiu nenhum patrocinador para garantir algum apoio financeiro. Além disso, o Leão do Bonfim, apelido do time, foi governado muitos anos por políticos e serviu de cabide de emprego.

Hoje, o torcedor que se tornou símbolo do Villa Nova em 2019 faz parte do conselho deliberativo. Apesar da situação econômica e da crise no futebol, ele está esperançoso com a nova administração do time e segue com o mesmo amor de criança pelo seu time de coração:

“É paixão mesmo, não tem explicação. Costumo falar que foi amor à primeira vista, é sentimento. Se a gente parar para pensar, a gente desiste, mas temos a esperança de que dias melhores voltarão”.

Marcão comemora o título sergipano de 2021, em maio. Fonte: reprodução

Já o goleiro Marcão, capitão da equipe do Club Sportivo Sergipe, cita o apoio e fidelidade da torcida como fundamentais nesses tempos difíceis, e mesmo com esse longo período sem o contato direto com o torcedor os fãs ainda ajudam muito o clube. O jogador afirma que a torcida abraçou o Sergipe, mesmo com todas as dificuldades que estão sendo enfrentadas:

“Eles (torcedores) cobram bastante, mas sabem que o momento é de abraçar. A torcida está nos ajudando bastante, da maneira que eles podem”.

Isso pode ser explicado pelo bom desempenho em campo da equipe recentemente, motivando os torcedores a apoiar o clube, diferente da situação do Villa Nova. Além disso, Marcão diz que sua maior saudade é jogar com torcida, e o quanto a falta dela afeta os clubes financeiramente e dentro de campo.

A mídia em foco

“Nosso papel é dar visibilidade daquilo que está acontecendo, daquilo que eles não podem viver. Parar de noticiar o que é ruim, futebol tem muita coisa boa, muitas histórias de superação. Então, acho que a grande mídia poderia ter um olhar mais atento a isso, pelo desenvolvimento do esporte, porque é muito miscigenado.”

As palavras da repórter Larissa Balieiro refletem bem a realidade dos veículos midiáticos que cobrem as divisões inferiores. Devido ao foco da grande mídia para os campeonatos da elite, o trabalho noticioso das equipes de menor expressão se restringe às emissoras locais, rádios e páginas independentes, que muitas vezes, por conta da precariedade das assessorias de imprensa dos clubes, têm seu trabalho prejudicado.

Com a pandemia da Covid-19, a cobertura desse nicho do futebol se torna ainda mais complexa. As restrições impostas pelas federações para que os jogos pudessem ocorrer e os campeonatos não fossem paralisados novamente influenciaram a maneira com que os repórteres exercem seu ofício. Segundo a amazonense da rádio Difusora 96,9, de Manaus, a dificuldade de contato com os jogadores e técnicos, a desorganização dos calendários das competições e, principalmente, o serviço remoto, que impõe barreiras na relação entre jornalista e entrevistado, estão entre as maiores adversidades.

Entrevista concedida por Larissa Balieiro.
Allan ao centro da imagem, com os outros integrantes do Última Divisão.

De um blog dentro de um site a um dos maiores canais de futebol alternativo do Brasil, o Última Divisão é um dos principais veículos nessa área. Além do site, a página conta com 38,5 mil seguidores no Instagram, 26,5 mil no Twitter e 147 mil inscritos no Youtube. Seu conteúdo engloba desde equipes sem divisão até a Série B do Campeonato Brasileiro, cobrindo também os estaduais. Assim como a repórter Larissa, o jornalista Allan Brito, um dos fundadores do veículo, também citou a falta de estrutura comunicativa das equipes de menor expressão como principal barreira para a cobertura desses times: A organização desses clubes para lidar com repórteres é muito menor. Há apenas alguns casos isolados de clubes que têm um bom setor de comunicação. Por conta de problemas financeiros e visão estratégica, eles não investem nessa área e isso gera dificuldades para a gente. Faltam informações básicas e os sites são desatualizados, gerando problemas de apuração. Todo tipo de comunicação mínima que você precise, você tem muito menos em clubes de séries C e D”.

Apesar de serem mídia independente, a pandemia do novo Coronavírus prejudicou de forma significativa o trabalho da equipe. O que antes era feito em um encontro de amigos teve que se adaptar ao distanciamento social. O conteúdo foi adequado às medidas restritivas e o fluxo foi intensificado. Memórias, jogos marcantes e aspectos do passado das equipes menores foram ao ar até que os campeonatos retornassem à ativa.

Entrevista com Allan, do Última Divisão.

Assim como Larissa, Allan também citou a falta de cobertura da grande mídia sobre os times de menor expressão que, para ele, merecem mais espaço na televisão, devido às diversas histórias que dali surgem: Há um exagero em cima dos clubes de série A, o que ocasiona a falta de espaço na mídia para times menores, sendo que essas equipes merecem uma maior cobertura diária e uma exploração maior e melhor”.

Aspectos sociais

Entrevista do goleiro Marcão concedida ao canal Premiere.

O goleiro Marcão, do Sergipe, concedeu essa entrevista após o jogo válido pela Copa do Brasil, contra o Cuiabá, que ocasionou a saída do Sergipe da competição, e, consequentemente, menor arrecadação financeira para o clube. O capitão da equipe comenta sobre as dificuldades que jogadores e funcionários enfrentaram durante a paralisação dos campeonatos, e se pôs contrário a uma nova suspensão das atividades. Devido ao grande impacto do relato, seu pronunciamento foi compartilhado por milhares de pessoas nas redes sociais, sendo alvo de profunda discussão na mídia esportiva.

Em entrevista cedida a nós, o goleiro critica a posição dos jogadores da elite do futebol brasileiro e chama atenção para a difícil realidade que atletas de divisões inferiores enfrentam. “Os jogadores de cima que têm o poder da mídia nas mãos poderiam se unir e tomar uma atitude.” Além disso, conta sobre sua busca por melhores circunstâncias para todos nesse meio. “Eu sempre briguei por igualdade, por salários em dia, por uma melhor condição de trabalho para os funcionários”, disse Marcus Vinicius, o Marcão.

Entrevista com Marcão, do CS Sergipe.

Segundo Marcão, a maioria dos jogadores profissionais se dedica exclusivamente ao futebol, não possuindo outro ofício. O próprio atleta sofreu com a chegada da pandemia, ficando temporariamente sem clube. Por sorte, o goleiro do Sergipe é dono de uma empresa de viagens, da qual conseguiu extrair seu sustento: “Nesse período de quatro meses eu fiquei desempregado. Imagina estar recebendo quatro mil reais e perder 30% do seu salário, sem saber se vai receber. Existem muitos clubes que são assim, aproveitam da situação para dar desculpas”.

Muitos funcionários dos clubes também têm no futebol o único sustento de suas famílias. Logo, como consequência do corte de verbas, os trabalhadores têm seus salários diminuídos ou, em casos mais drásticos, são demitidos, para que o time sofra menos com a nova realidade financeira. No caso do clube sergipano, a diretoria está fazendo o que pode para ajudar os membros da equipe. “Com nós jogadores está tudo correto, já os funcionários estão passando por dificuldade, então, eles (diretoria do clube) estão procurando recursos para sanar essas dívidas. E nós também estamos ajudando, sempre que recebemos fazemos uma cota, compramos cestas básicas e distribuímos para os funcionários”, disse o goleiro.

Nessa perspectiva, Luís Carlos, do JEC, destacou a situação dos atletas de base que moram no CT Morro do Meio, na zona oeste da cidade catarinense. Vindos de todas as regiões do Brasil, muitos meninos veem a ida a Joinville como a única oportunidade de se tornarem jogadores profissionais, depositando todas as esperanças nesse sonho. Entretanto, com a pandemia da Covid-19, o CT precisou ser fechado. Funcionários foram mandados para suas casas e o sonho daqueles garotos ficou estagnado, agravando ainda mais suas dificuldades. O diretor revela:

“Fechamos o CT para não causar aglomerações, mas e os meninos que moram lá? Que estão longe de casa? Alguns não tinham dinheiro nem para a passagem de volta. Alguns não queriam retornar para casa porque ia ser pior, falaram que lá não teriam lugar para dormir. O problema social é enorme, muito maior do que a gente está enxergando. É sufocante para o clube”.

Expectativas para o futuro

“Desejo que tudo volte ao normal, mas acredito que vamos ter que nos adaptar ao novo mundo. Espero que os estádios estejam lotados em breve e que os funcionários possam trabalhar novamente.” (Marcão, jogador do Club Sportivo Sergipe)

É difícil prever precisamente quando a pandemia de Covid-19 acabará, contudo os entrevistados mantêm uma visão otimista do momento pós-pandêmico.

“As torcidas darão espetáculo, os estádios estarão lotados, haverá muita emoção e nós vamos estar lá de forma presencial”, destaca Allan. O membro do Última Divisão acredita que o público do futebol só retornará presencialmente quando for atingido um percentual seguro de vacinados. João Otávio também cita que só é possível sair dessa situação atual com a vacinação e alega estar preocupado com a população brasileira, que, no geral, está passando por muitas dificuldades.

Sob o aspecto dos clubes, Luís Carlos Guedes prevê que aqueles que não se profissionalizarem na gestão, organização e tecnologia estarão fadados a acabar. Já Roberto Medeiros afirma que as equipes devem buscar mais formas de cativar a torcida fora dos gramados. Entretanto, ressalta que quando o time está vencendo o torcedor tende a apoiar mais, mas se afasta quando não são apresentados bons resultados, portanto o que sempre será mais importante no futebol é a “boa e velha bola na rede”.

Além disso, o diretor de marketing acredita que os números após a pandemia irão melhorar e conclui seu pensamento com uma mensagem de esperança para o apaixonado pelo esporte:

“Se nós conseguirmos sobreviver ao vírus, conseguiremos sobreviver no futebol”.

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Laboratório de Jornalismo

Espaço reservado para produções dos alunos do 1º ano de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero em 2021